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BBC News 2021 (Brasil), Crise nas Forças Armadas e afago ao centrão: a reforma ministerial de Bolsonaro

Crise nas Forças Armadas e afago ao centrão: a reforma ministerial de Bolsonaro

Fragilizado em meio ao agravamento da pandemia e à queda de sua popularidade, o presidente

Jair Bolsonaro promoveu uma reforma ministerial na segunda-feira, 29 de março

Foram seis mudanças de cargo que representaram afagos ao Centrão e

uma tentativa de ampliar o alinhamento das Forças Armadas ao seu governo,

o que aumentou a preocupação sobre o uso político dos militares

Houve trocas no Ministério da Defesa, na Casa Civil, na Secretaria de Governo, no Ministério das

Relações Exteriores, no Ministério da Justiça e Segurança Pública e na Advocacia-Geral da União

Nesta terça, foi anunciado também que haverá substituição do comando das três Forças:

Exército, Marinha e Aeronáutica

Eu sou Mariana Schreiber, repórter da BBC News Brasil em Brasília, e vou te explicar essas

mudanças em dois pontos. Primeiro analisando a influência do Centrão e depois abordando

mais a fundo a mudança no Ministério da Defesa e nas Forças Armadas

Começando pelo papel do Centrão. A expectativa inicial na segunda era que apenas a troca do

comando do Itamaraty seria anunciada, com a demissão do ministro Ernesto Araújo, um

chanceler com perfil ideológico que rompeu com a tradição multilateral da diplomacia brasileira

Essa mudança já atendia à pressão de líderes do Centrão,

como o presidente da Câmara Arthur Lira, e de outras forças políticas do Congresso

Nas últimas semanas, parlamentares deixaram claro que não toleravam

mais a manutenção de Araújo e o culpavam pela lentidão na importação de vacinas

Sua substituição, então, se mostrou inevitável para o

governo manter sua governabilidade no Congresso

Para o lugar de Araújo foi anunciado o embaixador Carlos Alberto França,

um diplomata de pouca expressão que nunca chefiou uma Embaixada brasileira

Ele conquistou a confiança de Bolsonaro quando chefiou o cerimonial do Palácio do Planalto

Outra mudança que atendeu claramente os interesses do Centrão, foi a nomeação

da deputada federal Flávia Arruda, eleita no Distrito Federal pelo PL,

partido presidido por Valdemar da Costa Neto, um dos condenados no escândalo do Mensalão

Esposa do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, também condenado por corrupção,

ela assume a Secretaria de Governo da Presidência da República, ministério no

coração do Palácio do Planalto, e passa a comandar a articulação política do governo Bolsonaro

Entrando no segundo ponto do vídeo,

vamos analisar a dança de cadeiras entre os ministros militares

Foi esse troca-troca que abriu espaço para a nomeação de Flávia Arruda,

já que o general Luiz Ramos foi deslocado da Secretaria de Governo para a Casa Civil

Ele entrou no lugar do general Braga Netto que, por sua vez,

assumiu o Ministério da Defesa, após a demissão de Fernando Azevedo

Essa mudança aumentou a preocupação sobre uma nova

investida de Bolsonaro com objetivo de usar as Forças Armadas politicamente

Segundo apuração da BBC News Brasil, Bolsonaro pediu sua saída do cargo por

estar insatisfeito com a falta de apoio público das Forças Armadas a bandeiras do governo

Essa pressão sobre as Forças Armadas acabou culminando nesta terça-feira no anúncio

de que os comandos de Exército, Marinha e Aeronáutica também serão substituídos

A troca considerada mais importante é a do comandante do Exército, Edson Pujol, que já

deu declarações públicas contra a entrada da política nos quartéis, desagradando Bolsonaro

Pujol tem um perfil diferente do seu antecessor no cargo, o general Villas Boas,

que se notabilizou por se intrometer na política e no Judiciário com declarações públicas

Na mais notória dessas falas, ele postou no Twitter em 2018 uma mensagem na véspera

do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula pelo STF,

o que foi visto como uma tentativa de pressionar o Supremo

Embora o ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo, tenha sim em alguns momentos demonstrado apoio

público a Bolsonaro, como no episódio em que sobrevoou ao lado dele uma manifestação com viés

antidemocrático no ano passado, o presidente queria um apoio maior das Forças Armadas

Ainda mais depois de um crescente isolamento do seu governo,

com a recente carta de empresários e economistas com críticas à condução da pandemia e também o

aumento da resistência dentro do Congresso e do Judiciário a políticas do Executivo

Nas palavras de uma fonte com trânsito no Alto Comando das Forças Armadas ouvida pela BBC News

Brasil: “Mais isolado, o presidente quer o apoio da espada, leia-se, do Exército”

Estudioso dos militares, o professor da Universidade de Brasília Juliano Cortinhas,

considera que a saída de Pujol é ainda mais preocupante que a de Azevedo"

Isso porque, no Brasil, o Ministério da Defesa,

criado em 1999, até hoje não assumiu de fato o controle das Forças Armadas — na prática,

são os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica que têm hierarquia sobre as tropas

Para Cortinhas, a troca de comando do Exército por um general mais alinhado

a Bolsonaro é um sinal ruim para democracia, considerando o perfil

autoritário do presidente, que em toda sua vida exaltou a Ditadura Militar

Para finalizar esse vídeo, vale registrar as outras duas trocas de ministério anunciadas ontem.

O novo ministro da Justiça e Segurança Pública é o delegado da Polícia Federal Anderson Torres,

substituto de André Mendonça, que volta para o comando da Advocacia-Geral da União

Torres é próximo da família Bolsonaro, mantendo relações

pessoais com dois filhos do presidente, o senador Flávio e o deputado Eduardo

No passado, ele chegou a ser contado para comandar a Polícia Federal,

mas seu nome foi vetado pelo então Ministro da Justiça Sergio Moro

Espero que esse vídeo tenha ajudado vocês a entender melhor a troca de ministros.

Obrigada pela audiência e até a próxima.

Crise nas Forças Armadas e afago ao centrão: a reforma ministerial de Bolsonaro Crisis in the Armed Forces and pandering to the centrão: Bolsonaro's ministerial reform Crisi delle Forze armate e assecondamento del centrismo: la riforma ministeriale di Bolsonaro

Fragilizado em meio ao agravamento da pandemia  e à queda de sua popularidade, o presidente

Jair Bolsonaro promoveu uma reforma  ministerial na segunda-feira, 29 de março

Foram seis mudanças de cargo que  representaram afagos ao Centrão e

uma tentativa de ampliar o alinhamento  das Forças Armadas ao seu governo,

o que aumentou a preocupação sobre  o uso político dos militares

Houve trocas no Ministério da Defesa, na Casa  Civil, na Secretaria de Governo, no Ministério das

Relações Exteriores, no Ministério da Justiça e  Segurança Pública e na Advocacia-Geral da União

Nesta terça, foi anunciado também que haverá  substituição do comando das três Forças:

Exército, Marinha e Aeronáutica

Eu sou Mariana Schreiber, repórter da BBC News  Brasil em Brasília, e vou te explicar essas

mudanças em dois pontos. Primeiro analisando  a influência do Centrão e depois abordando

mais a fundo a mudança no Ministério  da Defesa e nas Forças Armadas

Começando pelo papel do Centrão. A expectativa  inicial na segunda era que apenas a troca do

comando do Itamaraty seria anunciada, com  a demissão do ministro Ernesto Araújo, um

chanceler com perfil ideológico que rompeu com a  tradição multilateral da diplomacia brasileira

Essa mudança já atendia à  pressão de líderes do Centrão,

como o presidente da Câmara Arthur Lira, e  de outras forças políticas do Congresso

Nas últimas semanas, parlamentares  deixaram claro que não toleravam

mais a manutenção de Araújo e o culpavam  pela lentidão na importação de vacinas

Sua substituição, então, se  mostrou inevitável para o

governo manter sua governabilidade no Congresso

Para o lugar de Araújo foi anunciado  o embaixador Carlos Alberto França,

um diplomata de pouca expressão que  nunca chefiou uma Embaixada brasileira

Ele conquistou a confiança de Bolsonaro quando  chefiou o cerimonial do Palácio do Planalto

Outra mudança que atendeu claramente os  interesses do Centrão, foi a nomeação

da deputada federal Flávia Arruda,  eleita no Distrito Federal pelo PL,

partido presidido por Valdemar da Costa Neto,  um dos condenados no escândalo do Mensalão

Esposa do ex-governador do Distrito Federal José  Roberto Arruda, também condenado por corrupção,

ela assume a Secretaria de Governo da  Presidência da República, ministério no

coração do Palácio do Planalto, e passa a comandar  a articulação política do governo Bolsonaro

Entrando no segundo ponto do vídeo,

vamos analisar a dança de cadeiras  entre os ministros militares

Foi esse troca-troca que abriu espaço  para a nomeação de Flávia Arruda,

já que o general Luiz Ramos foi deslocado da  Secretaria de Governo para a Casa Civil

Ele entrou no lugar do general  Braga Netto que, por sua vez,

assumiu o Ministério da Defesa, após  a demissão de Fernando Azevedo

Essa mudança aumentou a preocupação sobre uma nova

investida de Bolsonaro com objetivo de  usar as Forças Armadas politicamente

Segundo apuração da BBC News Brasil,  Bolsonaro pediu sua saída do cargo por

estar insatisfeito com a falta de apoio público  das Forças Armadas a bandeiras do governo

Essa pressão sobre as Forças Armadas acabou  culminando nesta terça-feira no anúncio

de que os comandos de Exército, Marinha e  Aeronáutica também serão substituídos

A troca considerada mais importante é a do  comandante do Exército, Edson Pujol, que já

deu declarações públicas contra a entrada da  política nos quartéis, desagradando Bolsonaro

Pujol tem um perfil diferente do seu  antecessor no cargo, o general Villas Boas,

que se notabilizou por se intrometer na política  e no Judiciário com declarações públicas

Na mais notória dessas falas, ele postou  no Twitter em 2018 uma mensagem na véspera

do julgamento de um habeas corpus  do ex-presidente Lula pelo STF,

o que foi visto como uma tentativa  de pressionar o Supremo

Embora o ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo,  tenha sim em alguns momentos demonstrado apoio

público a Bolsonaro, como no episódio em que  sobrevoou ao lado dele uma manifestação com viés

antidemocrático no ano passado, o presidente  queria um apoio maior das Forças Armadas

Ainda mais depois de um crescente  isolamento do seu governo,

com a recente carta de empresários e economistas  com críticas à condução da pandemia e também o

aumento da resistência dentro do Congresso  e do Judiciário a políticas do Executivo

Nas palavras de uma fonte com trânsito no Alto  Comando das Forças Armadas ouvida pela BBC News

Brasil: “Mais isolado, o presidente quer o  apoio da espada, leia-se, do Exército”

Estudioso dos militares, o professor da  Universidade de Brasília Juliano Cortinhas,

considera que a saída de Pujol é ainda  mais preocupante que a de Azevedo"

Isso porque, no Brasil, o Ministério da Defesa,

criado em 1999, até hoje não assumiu de fato  o controle das Forças Armadas — na prática,

são os comandos do Exército, da Marinha e da  Aeronáutica que têm hierarquia sobre as tropas

Para Cortinhas, a troca de comando do  Exército por um general mais alinhado

a Bolsonaro é um sinal ruim para  democracia, considerando o perfil

autoritário do presidente, que em toda  sua vida exaltou a Ditadura Militar

Para finalizar esse vídeo, vale registrar as  outras duas trocas de ministério anunciadas ontem.

O novo ministro da Justiça e Segurança Pública  é o delegado da Polícia Federal Anderson Torres,

substituto de André Mendonça, que volta para  o comando da Advocacia-Geral da União

Torres é próximo da família  Bolsonaro, mantendo relações

pessoais com dois filhos do presidente,  o senador Flávio e o deputado Eduardo

No passado, ele chegou a ser contado  para comandar a Polícia Federal,

mas seu nome foi vetado pelo então  Ministro da Justiça Sergio Moro

Espero que esse vídeo tenha ajudado vocês  a entender melhor a troca de ministros.

Obrigada pela audiência e até a próxima.