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BBC News 2021 (Brasil), Como mito de estátuas brancas gregas surgiu e alimentou falsa ideia de superioridade

Como mito de estátuas brancas gregas surgiu e alimentou falsa ideia de superioridade

Que imagem vem na sua mente

quando você pensa em uma estátua grega?

Mármore perfeitamente polido e tudo branco?

Roupas brancas, corpos brancos rodeados de arquitetura toda... branca?

Eu cresci na Grécia, no meio de todo esse mármore

E, como muitos, acreditava que assim eram as estátuas e templos gregos

Errado!

Meu nome é Elisa Kriezis, da BBC News Brasil aqui em Londres,

e hoje eu vou derrubar com vocês o mito de que as estátuas da chamada Antiguidade

eram monocromáticas, principalmente brancas

Mito este que acabou erroneamente usado por pessoas

que viam na suposta e falsa ausência de cor e ornamentos

sinal de uma cultura mais elevada e sofisticada,

resultado da superioridade de brancos europeus

Poucos sabem que toda aquela brancura foi sim fruto de ignorância e distorção

Vamos começar essa viagem na Acrópole de Atenas

Essa fortificação e também santuário religioso foi construída

no meio da cidade, no século 5 antes de Cristo

Foi construído com mármore retirado desse cadeia montanhosa no norte de Atenas, bem

perto de onde eu nasci

A maioria das estátuas gregas que você encontra

em museus pelo mundo é de mármore

Afinal, era a pedra disponível na área

Mas aí já surge o primeiro erro, a primeira distorção histórica

Muitas das estátuas que se conectavam a estruturas maiores,

como prédios, eram, sim, feitas de mármore

Mas a maioria das esculturas sem esse apoio de uma estrutura maior era feita de bronze

E mais: o resultado final da arte em mármore ou em bronze

não tinha nada a ver com a cor original da pedra ou do metal

Para descobrir a aparência original das esculturas, temos que voltar 2.500 anos no

passado

Foi nesse período que escultores famosos

como Phidias e Praxiteles criaram sua obra, que sobrevive até hoje

Foi também quando a arte da escultura grega atingiu seu ápice

A gente avança 500 anos e o romanos entram nessa história

Nessa época, eles expandiam seu Império e dominavam o mundo mediterrâneo

Incluindo aí, é claro, a civilização grega

Os romanos admiravam a cultura e arte da Grécia

e criaram sua estética à imagem e semelhança da dos gregos

No século 2 d.C., a demanda por réplicas de estátuas gregas era enorme

Era objeto de desejo para decorar casas da elite romana,

praças públicas e até os famosos banhos romanos

E nesse processo de reproduzir estátuas gregas,

aconteceu uma coisa curiosa

Muitas estátuas originalmente feitas de bronze

acabaram sendo replicadas em mármore

Uma maneira de identificar réplicas

é quando a gente encontra barras de apoio

Como essas

O mármore não tem a mesma resistência do bronze

e precisa de uma mãozinha para ficar de pé

Temos registros de 20 cópias de uma mesma estátua

que era originalmente de bronze,

mas que entrou para a história como sendo de mármore

E com o apoio para não cair

Poucas peças em bronze sobreviveram

Afinal, o bronze é um material nobre e reutilizável

O Mar Mediterrâneo continua sendo, ainda hoje,

a principal fonte desses tesouros afundados em naufrágios

Mas vamos voltar a falar das réplicas das estatuas gregas que os romanos fizeram

Esse um caso raro em que tanto a versão original

quanto a cópia romana sobreviveram

Ambas eram de mármore

Na maioria dos casos, é isso que a gente vê nos museus: a cópia romana

E elas principalmente formam hoje a nossa percepção da Antiguidade

E nesta cabeça, uma surpresa

Vestígios claros de cor

Os gregos não apenas influenciaram o mundo,

mas foram influenciados pelos povos

às margens do Mar Mediterrâneo e do Oriente Médio

O intercambio não era só comercial, mais cultural

E a forte tradição de escultura colorida

esta diretamente ligada a essas trocas

O arqueólogo Vinzenz Brinkman, do instituto Liebighaus, na Alemanha, estudou o tema por 40 anos

Ele criou a exposição "Deuses em Cor", com réplicas das estátuas em sua cor original,

cheias de ornamentos, símbolos de animais e até pintadas de ouro.

Mas como a gente acabou pensando a Antiguidade sem cor?

Primeiro vamos observar a Idade Média

A chamada Idade das Trevas foi um período

em que a apreciação da cultura grega antiga se perdeu,

junto com o fim do Império Romano do Ocidente

Os romanos e sua apreciação pela Antiguidade grega saíram de cena, abrindo caminho para

a arte sacra medieval e suas pinturas de passagens da Bíblia em cores fortes e vibrantes

Foi só no final do século 15 que a Antiguidade clássica voltou a despertar interesse

Era o início do que ficou conhecido como o período do Renascimento

Naquela época, esculturas gregas e romanas foram redescobertas no antigo território

do Império Romano

E os artistas renascentistas tentaram reproduzir aquela obra

Peças icônicas do Renascimento,

como o David de Michelangelo

foram inspiradas nessa busca

por uma referéncia na Antiguidade clássica

Mas a maioria dos templos e das estátuas havia perdido grande parte da cor

Afinal, cerca de 2000 anos haviam se passado

E essa arte pálida e desbotada caiu como uma luva,

já que o objetivo dos renascentistas era se diferenciar

da arte sacra, extremamente colorida e considerada por eles vulgar do ponto de

vista artístico

Mas fica a pergunta

Ser que os renascentistas que criavam ali uma estética

que seria tão influente não viram pigmentos de cor nas estátuas?

É bem possível que tenham visto sim

Mas difícil de saber com certeza

O que sabemos é que havia referencias, como a de Platão

O filósofo grego escreveu no século 4 a.C.

que os olhos de uma estátua mereciam as mais bela das cores,

já que eram a parte mais bonita do corpo

Mas referências como essa podem ter sido ignoradas por vários motivos

E assim, diz Brinkmann, o mármore branco e o bronze escuro

passaram a ser usados como um símbolo de sofisticação do pensamento europeu

Vamos agora dar um salto no tempo

Foi finalmente em 1760,

em Pompeia, no pé do monte Vesúvio

que uma estátua preservada pela lava do vulcão trouxe tona o que a história havia apagado A Artemis de Pompeia

Com sandália e cabelos vermelhos

Foi uma descoberta histórica

Eram numerosos e visíveis os vestígios de cor na pele e nas roupas

A cinza do vulcão que a cobriu em 79 d.C.

tinha preservado parcialmente as cores

Johann Winckelmann, considerado um dos pais da história da arte clássica,

viu a estátua dois anos após a descoberta

e pode constatar a existência de cor

Muitos dizem que Winkelmann se recusou a aceitar que a estátua era grega

Ele dizia que provavelmente seria etrusca,

uma civilização mais antiga e considerada menos sofisticada do que a grega

Anos depois o especialista deu o braço a torcer

Definiu Artemis como fruto do início da arte grega

Mas sua conclusão permaneceu sem ser publicada por séculos

Até 2008

Isso mesmo

A conclusão de um dos maiores especialistas no tema, de mais de 200 anos antes,

só foi publicada em 2008

Alguns acham que essa demora foi proposital

E tem mais!

Neste afresco, também descoberto em Pompeia,

uma mulher pinta claramente uma estátua, com muitas cores

Algumas décadas depois dessas descobertas, o famoso poeta alemão e estudioso da arte grega,

Johann Wolfgang Goethe,

publicou no livro "Teoria das Cores": "É interessante notar que nações

selvagens, povos primitivos e crianças sentem grande atra o por cores vivas,

que animais se enfurecem com certas cores, e que homens sofisticados evitam

cores vivas nas roupas e no ambiente,

procurando em geral delas se afastar"

Mas Goethe, que considerava a Grécia antiga o ápice da civilização,

foi rebatido pelos fatos no mesmo ano em que publicou seu livro

Foi o ano em que o templo de Aphaia, na ilha grega de Aegina

foi descoberto em bom estado de conservação

As cores eram visíveis a olho nu

O arqueiro por exemplo fez parte desse templo

É óbvio que, quando a estátua foi achada,

as cores não eram mais tão fortes como na versão restaurada por Brinkmann

Mas mesmo assim eram inegavelmente visíveis na época

E o templo de Aphaia emergiu de escavações praticamente dizendo:

você está enganado, Goethe

Novas escavações no século 19 mostraram claramente o uso da cor na Antiguidade

Estudos de obras antigas foram publicados, como estes

No fim do século 19 ficou então claro que a Antiguidade era colorida

E apesar de todas essas descobertas,

nosso gosto foi moldado por uma estética sem cores

E em 1938, até que bem recentemente considerando essa longa história, o Museu

Britânico de Londres deu um baita polimento profissional

até o mármore da Acrópole ficar branco e brilhante

Eu fico pensando o que meus antepassados achariam disso

Segundo Brinkmann, nosso ideal estético foi distorcido mais do que nunca no século

20,

e por motivos políticos

De forma bem radical

Adolf Loos foi um dos arquitetos modernistas mais influentes de seu tempo

E chegou ao cúmulo de comparar cor e ornamento a crimes

Ele odiava a cor,

e chegou ao ponto de associar um senso de "imoralidade" ao ornamento, descrevendo-o como "degenerado"

E na opinião de Loos é necessário suprimir a cor e o ornamento

para que uma sociedade seja definida como moderna

Brinkmann explica que uma figura colorida reflete melhor as emoções individuais.

Já, sobre uma única cor, com frequência o branco,

é possível projetar qualquer ideologia

Assim como Loos e até mesmo Goethe,

para os nazistas a inexistência de cor refletia um homem mais moderno, sofisticado, superior

E isso foi usado para justificar suas ideologias mortais

Mark Abbe, da Universidade

da Geórgia, descreve:

A policromia era conhecida há séculos

Mais recentemente, a tecnologia permitiu um olhar ainda mais detalhado

As análises contam agora com luz ultravioleta, infravermelha e processos químicos avançados

capazes de revelar uma imagem bastante precisa da Antiguidade

Brinkmann, junto com sua esposa, a também arqueóloga Ulrike Koch-Brinkmann,

reconstruiu mais de 60 estátuas

Esculturas como a Peplos Kore, uma mulher jovem que decorava um túmulo,

os Guerreiros de Riace, achados no Mar Mediterrâneo,

o Kouros, um jovem nu que reflete a influencia do Egito na escultura Grega

com uma postura mais rígida,

o chamado sarcófago de Alexandre o Grande,

que na verdade não era o sarcófago dele,

achado no que hoje é o Líbano,

e que tem detalhes impressionantes de cor

As restaurações são feitas com pigmentos autênticos,

identificados nas esculturas originais.

A exposição Deuses em Cor já foi exibida na Grécia

No berço dessa arte, a recepção foi mista, como em outras partes do mundo.

Mas, segundo a arqueóloga Hariclia Brecoulaki,

a mostra serviu para desenterrar também o interesse na Grécia por seu próprio passado

Que história! Muito obrigada por terem assistido o vídeo

até aqui

Agora, uma última coisa

Imagino que eu tenha confundido alguns de vocês

dizendo neste vídeo que sou alemã, e neste que sou grega

Bem, minha mãe alemã, meu pai é grego,

então, eu sou as duas coisas

E ainda sobra espaço também para ser brasileira de coração

Por favor não deixem de acompanhar a BBC News Brasil no YouTube,

nas redes sociais e, claro, em bbcbrasil.com

Muito obrigada!


Como mito de estátuas brancas gregas surgiu e alimentou falsa ideia de superioridade How the myth of white Greek statues arose and fed a false idea of superiority

Que imagem vem na sua mente

quando você pensa em uma estátua grega?

Mármore perfeitamente polido e tudo branco?

Roupas brancas, corpos brancos rodeados de arquitetura toda... branca?

Eu cresci na Grécia, no meio de todo esse mármore

E,  como muitos, acreditava que assim eram as estátuas e templos gregos

Errado!

Meu nome é Elisa Kriezis, da BBC News Brasil aqui em Londres,

e hoje eu vou derrubar com vocês o mito de que as estátuas da chamada Antiguidade

eram monocromáticas, principalmente brancas

Mito este que acabou erroneamente usado por pessoas

que viam na suposta e falsa ausência de cor e ornamentos

sinal de uma cultura mais elevada e sofisticada,

resultado da superioridade de brancos europeus

Poucos sabem que toda aquela brancura foi sim fruto de ignorância e distorção

Vamos começar essa viagem na Acrópole de Atenas

Essa fortificação e também santuário religioso foi construída

no meio da cidade, no século 5 antes de Cristo

Foi construído com mármore retirado desse cadeia montanhosa no norte de Atenas, bem

perto de onde eu nasci

A maioria das estátuas gregas que você encontra

em museus pelo mundo é de mármore

Afinal, era a pedra disponível na área

Mas aí já surge o primeiro erro, a primeira distorção histórica

Muitas das estátuas que se conectavam a estruturas maiores,

como prédios, eram, sim, feitas de mármore

Mas a maioria das esculturas sem esse apoio de uma estrutura maior era feita de bronze

E mais: o resultado final da arte em mármore ou em bronze

não tinha nada a ver com a cor original da pedra ou do metal

Para descobrir a aparência original das esculturas, temos que voltar 2.500 anos no

passado

Foi nesse período que escultores famosos

como Phidias e Praxiteles criaram sua obra, que sobrevive até hoje

Foi também quando a arte da escultura grega atingiu seu ápice

A gente avança 500 anos e o romanos entram nessa história

Nessa época, eles expandiam seu Império e dominavam o mundo mediterrâneo

Incluindo aí, é claro, a civilização grega

Os romanos admiravam a cultura e arte da Grécia

e criaram sua estética à imagem e semelhança da dos gregos

No século 2 d.C., a demanda por réplicas de estátuas gregas era enorme

Era objeto de desejo para decorar casas da elite romana,

praças públicas e até os famosos banhos romanos

E nesse processo de reproduzir estátuas gregas,

aconteceu uma coisa curiosa

Muitas estátuas originalmente feitas de bronze

acabaram sendo replicadas em mármore

Uma maneira de identificar réplicas

é quando a gente encontra barras de apoio

Como essas

O mármore não tem a mesma resistência do bronze

e precisa de uma mãozinha para ficar de pé

Temos registros de 20 cópias de uma mesma estátua

que era originalmente de bronze,

mas que entrou para a história como sendo de mármore

E com o apoio para não cair

Poucas peças em bronze sobreviveram

Afinal, o bronze é um material nobre e reutilizável

O Mar Mediterrâneo continua sendo, ainda hoje,

a principal fonte desses tesouros afundados em naufrágios

Mas vamos voltar a falar das réplicas das estatuas gregas que os romanos fizeram

Esse um caso raro em que tanto a versão original

quanto a cópia romana sobreviveram

Ambas eram de mármore

Na maioria dos casos, é isso que a gente vê nos museus: a cópia romana

E elas principalmente formam hoje a nossa percepção da Antiguidade

E nesta cabeça, uma surpresa

Vestígios claros de cor

Os gregos não apenas influenciaram o mundo,

mas foram influenciados pelos povos

às margens do Mar Mediterrâneo e do Oriente Médio

O intercambio não era só comercial, mais cultural

E a forte tradição de escultura colorida

esta diretamente ligada a essas trocas

O arqueólogo Vinzenz Brinkman, do instituto Liebighaus, na Alemanha, estudou o tema por 40 anos

Ele criou a exposição "Deuses em Cor", com réplicas das estátuas em sua cor original,

cheias de ornamentos, símbolos de animais e até pintadas de ouro.

Mas como a gente acabou pensando a Antiguidade sem cor?

Primeiro vamos observar a Idade Média

A chamada Idade das Trevas foi um período

em que a apreciação da cultura grega antiga se perdeu,

junto com o fim do Império Romano do Ocidente

Os romanos e sua apreciação pela Antiguidade grega saíram de cena, abrindo caminho para

a arte sacra medieval e suas pinturas de passagens da Bíblia em cores fortes e vibrantes

Foi só no final do século 15 que a Antiguidade clássica voltou a despertar interesse

Era o início do que ficou conhecido como o período do Renascimento

Naquela época,  esculturas gregas e romanas foram redescobertas no antigo território

do Império Romano

E os artistas renascentistas tentaram reproduzir aquela obra

Peças icônicas do Renascimento,

como o David de Michelangelo

foram inspiradas nessa busca

por uma referéncia na Antiguidade clássica

Mas a maioria dos templos e das estátuas havia perdido grande parte da cor

Afinal, cerca de 2000 anos haviam se passado

E essa arte pálida e desbotada caiu como uma luva,

já que o objetivo dos renascentistas era se diferenciar

da arte sacra, extremamente colorida e considerada por eles vulgar do ponto de

vista artístico

Mas fica a pergunta

Ser que os renascentistas que criavam ali uma estética

que seria tão influente não viram pigmentos de cor nas estátuas?

É bem possível que tenham visto sim

Mas difícil de saber com certeza

O que sabemos é que havia referencias, como a de Platão

O filósofo grego escreveu no século 4 a.C.

que os olhos de uma estátua mereciam as mais bela das cores,

já que eram a parte mais bonita do corpo

Mas referências como essa podem ter sido ignoradas por vários motivos

E assim, diz Brinkmann, o mármore branco e o bronze escuro

passaram a ser usados como um símbolo de sofisticação do pensamento europeu

Vamos agora dar um salto no tempo

Foi finalmente em 1760,

em Pompeia, no pé do monte Vesúvio

que uma estátua preservada pela lava do vulcão trouxe tona o que a história havia apagado A Artemis de Pompeia

Com sandália e cabelos vermelhos

Foi uma descoberta histórica

Eram numerosos e visíveis os vestígios de cor na pele e nas roupas

A cinza do vulcão que a cobriu em 79 d.C.

tinha preservado parcialmente as cores

Johann Winckelmann, considerado um dos pais da história da arte clássica,

viu a estátua dois anos após a descoberta

e pode constatar a existência de cor

Muitos dizem que Winkelmann se recusou a aceitar que a estátua era grega

Ele dizia que provavelmente seria etrusca,

uma civilização mais antiga e considerada menos sofisticada do que a grega

Anos depois o especialista deu o braço a torcer

Definiu Artemis como fruto do início da arte grega

Mas sua conclusão permaneceu sem ser publicada por séculos

Até 2008

Isso mesmo

A conclusão de um dos maiores especialistas no tema, de mais de 200 anos antes,

só foi publicada em 2008

Alguns acham que essa demora foi proposital

E tem mais!

Neste afresco, também descoberto em Pompeia,

uma mulher pinta claramente uma estátua, com muitas cores

Algumas décadas depois dessas descobertas, o famoso poeta alemão e estudioso da arte grega,

Johann Wolfgang Goethe,

publicou no livro "Teoria das Cores": "É interessante notar que nações

selvagens, povos primitivos e crianças sentem grande atra o por cores vivas,

que animais se enfurecem com certas cores, e que homens sofisticados evitam

cores vivas nas roupas e no ambiente,

procurando em geral delas se afastar"

Mas Goethe, que considerava a Grécia antiga o ápice da civilização,

foi rebatido pelos fatos no mesmo ano em que publicou seu livro

Foi o ano em que o templo de Aphaia, na ilha grega de Aegina

foi descoberto em bom estado de conservação

As cores eram visíveis a olho nu

O arqueiro por exemplo fez parte desse templo

É óbvio que, quando a estátua foi achada,

as cores não eram mais tão fortes como na versão restaurada por Brinkmann

Mas mesmo assim eram inegavelmente visíveis na época

E o templo de Aphaia emergiu de escavações praticamente dizendo:

você está enganado, Goethe

Novas escavações no século 19  mostraram claramente o uso da cor na Antiguidade

Estudos de obras antigas foram publicados, como estes

No fim do século 19 ficou então claro que a Antiguidade era colorida

E apesar de todas essas descobertas,

nosso gosto foi moldado por uma estética sem cores

E em 1938, até que bem recentemente considerando essa longa história, o Museu

Britânico de Londres deu um baita polimento profissional

até o mármore da Acrópole ficar branco e brilhante

Eu fico pensando o que meus antepassados achariam disso

Segundo Brinkmann, nosso ideal estético foi distorcido mais do que nunca no século

20,

e por motivos políticos

De forma bem radical

Adolf Loos foi um dos arquitetos modernistas mais influentes de seu tempo

E chegou ao cúmulo de comparar cor e ornamento a crimes

Ele odiava a cor,

e chegou ao ponto de associar um senso de "imoralidade" ao ornamento, descrevendo-o como "degenerado"

E na opinião de Loos é necessário suprimir a cor e o ornamento

para que uma sociedade seja definida como moderna

Brinkmann explica que uma figura colorida reflete melhor as emoções individuais.

Já, sobre uma única cor, com frequência o branco,

é possível projetar qualquer ideologia

Assim como Loos e até mesmo Goethe,

para os nazistas a inexistência de cor refletia um homem mais moderno, sofisticado, superior

E isso foi usado para justificar suas ideologias mortais

Mark Abbe, da Universidade

da Geórgia, descreve:

A policromia era conhecida há séculos

Mais recentemente, a tecnologia permitiu um olhar ainda mais detalhado

As análises contam agora com luz ultravioleta, infravermelha e processos químicos avançados

capazes de revelar uma imagem bastante precisa da Antiguidade

Brinkmann, junto com sua esposa, a também arqueóloga Ulrike Koch-Brinkmann,

reconstruiu mais de 60 estátuas

Esculturas como a Peplos Kore, uma mulher jovem que decorava um túmulo,

os Guerreiros de Riace, achados no Mar Mediterrâneo,

o Kouros, um jovem nu que reflete a influencia do Egito na escultura Grega

com uma postura mais rígida,

o chamado sarcófago de Alexandre o Grande,

que na verdade não era o sarcófago dele,

achado no que hoje é o Líbano,

e que tem detalhes impressionantes de cor

As restaurações são feitas com pigmentos autênticos,

identificados nas esculturas originais.

A exposição Deuses em Cor já foi exibida na Grécia

No berço dessa arte, a recepção foi mista, como em outras partes do mundo.

Mas, segundo a arqueóloga Hariclia Brecoulaki,

a mostra serviu para desenterrar também o interesse na Grécia por seu próprio passado

Que história! Muito obrigada por terem assistido o vídeo

até aqui

Agora, uma última coisa

Imagino que eu tenha confundido alguns de vocês

dizendo neste vídeo que sou alemã, e neste que sou grega

Bem, minha mãe alemã, meu pai é grego,

então, eu sou as duas coisas

E ainda sobra espaço também para ser brasileira de coração

Por favor não deixem de acompanhar a BBC News Brasil no YouTube,

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Muito obrigada!